Foi o nome
do autor (Rogers Silva) e uma rápida olhada no endereço de origem que me
fizeram cair na realidade sobre o que tinha em mãos. A primeira reação, depois
do susto, foi folhear rapidamente as páginas que pareciam me chamar para lê-las
e assim fiquei por um bom tempo até encontrar alguém interessado no assunto
"ganhei do autor" a quem eu pudesse contar o ocorrido. Compartilhei
minha alegria e o coloquei no meu escritório, que na verdade não é nada além de
minha desktop (área de trabalho) composta pela mesa do computador, canetas,
papeis e livros (nesse local tem poucos). Uma vez colocado o livreto ali, lá
ficou. As provas chegaram, os estudos estavam me devorando e olhar o conto ali
só me agoniava pelas provas que não passavam.
As provas
passaram. "Mãe, cadê o livro que estava na minha mesa?" Ela não
sabia. Perdi, pensei. E agora não vou saber nunca mais a historia. Fiz um drama
interno até a faculdade começar a me devorar novamente. E foi só no dia que eu
devia começar a estudar para as próximas provas que o encontrei. Não li no
ônibus, pois sacudia demais e não conseguiria ver as letras em seus devidos
lugares, mas estava comigo, os olhos verdes do triste rapaz estavam em minha
bolsa. E então fora anunciada uma palestra sobre Sustentabilidade que minha
turma tinha obrigação de ir - Administração, terceiro semestre - e fui... Com o
conto no bolso interno da jaqueta.
O
palestrante começou a falar. Afundei na poltrona e abri aquele amontoado de
emoções sobre minha perna cruzada - para ninguém a frente ver, ou melhor, o
palestrante - e comecei a ler.
Li em algum
lugar, nas costas do livreto para ser exato, sobre a atenção que o conto toma
do leitor e senti isso quando virei a terceira página. Um rapaz sofrendo por
algo me fixou ali com ele e não querendo tirar a importância que
Sustentabilidade tinha no momento, mas mal ouvi o que o moço falou lá na frente
e me perdi respondendo apenas "arams" e "ta bom" quando
algum colega me dirigia a palavra.
Em um curso
de geografia e uma pesquisa para fazer foram ligados à vida do rapaz e a sua
futura amada e sim, ele seria amado de volta por Jessica, além de todas as
outras que também o queriam ou já o quiseram. Cabe ressaltar que o rapaz é
atraente, inteligente e quase perfeito a primeira vista (digo isso por não
acreditar em perfeição, mesmo usando a palavra em alguns momentos). O romance
nasce e é quase instantâneo, mas pensar em como começou me faz pensar em como
terminou a ponto de ficar agoniado, um sentimento longe do que o rapaz sentiu.
Um romance
que se levou a monotonia a ser quebrada pelo casal, a distância que os estudos
proporcionava indiretamente sobre eles e alguns discussões banharam os
primeiros desentendimentos até que algo acontece. Algo que também esperei uma
explicação vinda da garota a ponto de ler algumas páginas na sala, em horário
de aula.
Interrompi a
leitura e terminei na palestra da noite - essa foi mais importante para mim
como profissional não atuante - mas eu tinha que terminar de ler. E terminei. O
meio pelo qual Jessica faz os olhos verdes se tornarem vermelhos é um motivo
que, sempre que possível, estou dando minha opinião de reprovação sobre a
irracionalidade que isso é. Quem o faz não tem razão e nem amor. Já tivera
antes de o fazer? E sem revelar, mas deixando no ar essa desconfiança, confesso
que fiquei pensando quando ela disse a ele "não importa o que aconteça, se
lembre que te amo"... Mas isso não mudou nada. Ele não se lembrou e mesmo
que lembrasse com as forças necessárias não adiantaria. Foi mais racional do
que eu esperei quando houve a descoberta. A dor que acaba nos envolvendo junto
a ele no quarto com um espelho lhe encarando é grande e forte. Quanto aos
olhos, bom, talvez voltarão a ser do mesmo verde que um dia foi, mas nunca será
esquecido que um dia mudaram de cor.
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